quarta-feira, 29 de julho de 2009





No princípio era um rio, às vezes caudaloso, às vezes sereno, em seu caminho inexorável rumo ao mar; rasgando a natureza exuberante e cortando a mata que já recebia um fruto que durante décadas muitos acreditaram ser de ouro.E tinham motivos de sobra para isso.Às margens desse rio, que em alguns de seus trechos mais parecia uma cachoeira, surgiu um amontoado de casas modestas.Que se transformaram num povoado, depois numa vila, depois numa cidade, depois numa metrópole...Itabuna!99 anos de história a partir de sua emancipação de Ilhéus.Uma historia que começou antes mesmo da emancipação, com os desbravadores, que com coragem, sacrifício e espírito empreendedor construíram as bases de uma cidade única em sua capacidade de superar crises, de se redescobrir.Se Itabuna pudesse escolher a marca que a caracterizasse, essa marca seria indubitavelmente o empreendedorismo.Geração após geração, Itabuna produz pessoas com dinamismo suficiente para mantê-la como uma das principais cidades da Bahia e do Nordeste, um pólo econômico em que gravita no seu entorno quase uma centena de municípios.A Itabuna que um dia foi a Capital do Cacau, abateu-se com a decadência do fruto que perdeu o brilho, mas se reinventou como pólo comercial e prestador de serviços e se firmou como referencial na saúde, no ensino superior.Itabuna que pulsa, que vibra.Cidade aberta, que trata com o mesmo carinho seus filhos e os filhos que se deixaram adotar por ela.Cidade de gente que celebra a vida, nos bares lotados, na conversa despretensiosa, nas madrugadas boêmias. Cidade do shopping, que lhe deu ares cosmopolitas; dos prédios que avançam aos céus, como que mostrando a sua capacidade de romper limites, de sonhar sempre, de ousar.Itabuna de tantos nomes, que misturaram suas histórias de vida com a História de uma cidade viva.Itabuna, dos problemas que não podem ser ignorados, com sua periferia pobre e desassistida, dos milhares de excluídos sociais, dos governantes sem compromisso com a cidade.Mas, uma Itabuna infinitamente maior do que seus equívocos e seus problemas.Uma Itabuna que nos orgulha, cidade-menina entrando na contagem regressiva de seu primeiro centenário.Feito o rio que lhe viu nascer, ainda frágil e insegura, uma cidade que segue seu rumo inexorável rumo ao futuro que construímos a cada dia.A nossa cidade.Itabuna!
Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com



















PESQUISA APONTA
REELEIÇÃO DE WAGNER

O site Bahia Notícias, do jornalista Samuel Celestino, divulgou no início da noite uma pesquisa em que o governador Jaques Wagner aparece reeleito em todos os cenários simulados. Os números prometem tirar o sono de alguns, avisa Celestino, numa referência nada discreta ao ministro Geddel Vieira.
Eis os cenários: na pesquisa espontânea, Jaques Wagner chega a 24,6%; Paulo Souto 12,2%; e Geddel Vieira Lima 5,7%. Outros 5,7% não souberam ou não quiseram opinar. Já na pesquisa estimulada, Wagner obtém 35,8% das intenções de voto; Paulo Souto 27,8%; e Geddel, 14,7%. Brancos e nulos somaram 8,25%.
Num eventual segundo turno, Jaques Wagner derrotaria Paulo Souto por 45% a 37%. Quando a disputa é com Geddel, os números são 49% (Wagner) e 29% (Geddel). Se os candidatos fossem Paulo Souto e Geddel, o ex-governador venceria com 42% contra 31% do ministro da Integração Nacional.
A consulta foi encomendada pelo Instituto Getúlio Vargas, do PTB, e foi realizada em Salvador e 35 municípios do interior. Quem aplicou os questionários foi o Instituto Economic Pesquisas e Projetos, entre os dias 8 e 16 de julho. Foram entrevistadas duas mil pessoas – a margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.
QUE MEMÓRIA ESCOLHEMOS PARA ITABUNA?
A comemoração do aniversário de emancipação de Itabuna faz saltar na imprensa e nos discursos das autoridades uma história vaidosa e orgulhosa do município. Por meio dela, ficamos informados que Itabuna é o resultado de uma “saga”, cujos personagens centrais são os coronéis que fincaram poder nesta terra e construíram a “Civilização Grapiúna”.
A partir daí, uma série de signos é montada com vista a ratificar essa visão sobre o passado. Talvez o mais presente deles seja o mito dos pioneiros (ou dos desbravadores, como ficaram conhecidos por aqui), onde se sobressaem figuras como Firmino Alves, Henrique Alves e Félix Severino do Amor Divino. Esse imaginário “progressista, civilizacionista e desbravador” serve de referência para muitos empreendedores que buscam se afirmar na sociedade de Itabuna.
Dessa forma, projetamos no nosso presente o que consideramos que esses indivíduos foram no passado, mas muitas vezes esquecemos de questionar: o que escolhemos para compor nossa memória?
Ao contrário do que muitos pensam, o passado é um elemento fundamental para amparar as questões do presente. A memória é construída e ratificada a partir dos grupos sociais que se projetam na sociedade atual. Um bom exemplo disso foi a comemoração pelos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil.
Naquela oportunidade, a memória de um país composto por “um povo novo, formado pela mistura de três raças valorosas, alegre, pacífico e inconfundível” foi solidificado com um passado onde só se enxergava harmonia, progresso e ordem, além de reforçar símbolos que ajudavam a forjar uma identidade homogênea de uma população tão múltipla: bandeira nacional, heróis (Tiradentes, D. Pedro I, Caxias e Vargas) e cultura popular (samba, futebol, etc).
Os efeitos da comemoração dos “500 anos” foram a construção de um país cujas desigualdades social e racial gritantes foram ofuscadas por uma visão estereotipada e mitificada do passado brasileiro.
As comemorações pelo centenário do município parecem caminhar num rumo muito semelhante ao que foi visto em 2000. Esquecemos da pluralidade dos indivíduos que ajudaram a construir Itabuna, além de ofuscar as diferenças culturais e sociais que permearam sua comunidade.
A memória de Itabuna, na ânsia de ratificar seus valores de progresso, apaga do seu passado a luta de diversos trabalhadores que disputaram o direito de viver nesta cidade. Foi assim quando os feirantes, em 1937, exigiram da prefeitura de Claudionor Alpoim a liberdade para comercializaram seus produtos na feira pública que se localizava na Praça Adami.
Lembrar que, em nome do progresso local, as lavadeiras foram obrigadas a se retirar das margens e do leito do rio Cachoeira em 1946, e por este motivo, foram até a Justiça Pública contra a ordem do prefeito Armando Freire. Cabe citar também que, na década de 1950, os candomblés e os bicheiros de Itabuna sofreram uma dura perseguição da imprensa e das autoridades policiais que reprimiam qualquer comportamento cultural que ultrapassassem as fronteiras da idéia de civilização impostas pelas elites locais.
Estes breves episódios do passado de Itabuna nos remetem quase que instantaneamente para os fatos recentes de nossa cidade. Quem não lembra da retirada das floricultoras da Praça José Bastos no ano de 2007? Ou ainda, da perseguição cotidiana aos camelôs nas principais vias urbanas da cidade? E o que dizer da situação dos feirantes nos espaços destinados a Feira Pública? Preocupar-se com uma memória que nos faça refletir sobre os desafios existentes na sociedade contemporânea é um passo decisivo para se repensar Itabuna e não se envaidecer dela como um amor cego.
Optar por uma memória em torno do Centenário de Itabuna que cristaliza um passado heróico e mitificado do passado local é ajudar a camuflar uma sociedade conservadora e autoritária do presente, e excluir mais uma vez outros tantos personagens que contribuíam para consolidar esta cidade. Dizem que os homens são capazes de aprender com suas experiências. Que tal não repetirmos os mesmo erros das comemorações dos “500 anos” no Centenário de Itabuna?

Philipe Murillo S. de Carvalho é mestre em História Regional e Local pela Universidade do estado da Bahia. Autor da dissertação “Uma cidade em Disputa: Tensões e conflitos urbanos em Itabuna (1930-1947)”